07
mar

Data para refletir sobre as conquistas femininas

As mulheres não são mais as mesmas. Quantas vezes já ouvimos esta frase? Hoje podemos trabalhar e gerenciar a própria renda, o que ampliou o nosso acesso aos bens materiais. Temos a chance de estudar e escolher a profissão que desejamos seguir. Podemos 

não apenas votar, mas até mesmo ser eleitas. Conquistamos maior independência e liberdade em todos os sentidos. A sociedade não mudou sozinha: foi a luta das mulheres e das feministas que permitiu que hoje pudéssemos fazer tantas escolhas. E é por isso que existe o 8 de março: para marcar o histórico desequilíbrio entre os direitos de homens e mulheres e também para fazer refletir sobre os desafios que ainda temos a enfrentar, como a dupla jornada de trabalho e a violência.

Gabriela Bueno Peres Falchi (foto da direita), farmacêutica, é da geração de mulheres que teve direito a fazer as próprias escolhas e reconhece que nem sempre este foi um benefício feminino. Sua trajetória foi bem diferente das duas mulheres que diz inspirá-la. "Na juventude da minha sogra, a mulher não tinha muita liberdade de estudo ou trabalho. Na época da minha mãe, que nasceu quinze anos depois, já havia mais liberdade para escolher se queria trabalhar fora ou ser dona-de-casa. E hoje a mulher já pode estudar e até sofre pressão dos pais e da sociedade, mas tem estímulo e condições pra isso", compara. Sua colega Márcia Salles (à esquerda) também admira a trajetória da mãe. "Ela veio comigo de São Miguel do Oeste para Florianópolis para que eu pudesse realizar o sonho de cursar Farmácia. Sempre lutou e trabalhar para me ajudar nos estudos", conta.

O Dia Internacional da Mulher marca pelo menos dois fatos. Há 158 anos, um ataque incendiário promovido pela polícia a uma fábrica têxtil em Nova Iorque matou cento e vinte e nove operárias em greve que lutavam pela redução da jornada de trabalho (que na época 

era de 16 horas diárias). A história conta que o fato ocorreu em 8 de março de 1857. Anos depois, em 1917, militantes feministas russas realizaram um congresso feminista também em um 8 de março. Para além da coincidência da data, o dois acontecimentos tem em comum a luta das mulheres pelos seus próprios direitos.

Quase dois séculos depois, são claros os avanços que permitiram que Gabriela, Márcia e tantas mulheres jovens tivessem garantidos muitos direitos legais e chances de fazer escolhas pessoais e profissionais. Apesar disso, no Brasil e em todo o mundo, a cultura machista segue perpetuando situações desiguais para as mulheres em diferentes aspectos. Alguns deles:

Violência
A ONU estima que sete entre dez mulheres no mundo foram ou ainda serão violentadas em algum momento da sua vida. Para combater os alarmantes números de violência doméstica no Brasil, os movimentos feministas reivindicaram a criação de uma lei que punisse estes casos como crime. Surgiu a Lei Maria da Penha, que leva o nome de uma farmacêutica agredida e quase morta pelo ex-marido. A implementação da lei ainda tem muitas falhas e faltam estruturas de suporte às mulheres que denunciam o crime. Além disso, as mulheres e meninas não tem a mesma liberdade que os homens para circular livremente pelos espaços públicos, pois a ameaça do estupro as acompanha por todos os lugares. Seja física ou psicológica, a violência doméstica é praticada predominantemente por cônjuges ou familiares em todas as classes sociais, mas também pode ocorrer no local de trabalho e via internet.

 

Disparidade salarial
A diferença salarial entre homens e mulheres é marcante em muitas profissões, especialmente no setor privado. A profissão farmacêutica, que é predominantemente formada por mulheres, é privilegiada neste sentido. Mas fora dos estabelecimentos farmacêuticos, a realidade é bem diferente: as mulheres latino-americanas ganham menos que os homens, mesmo que possuam um maior nível de instrução. Por meio de comparação simples dos salários médios, o Banco Interamericano de Desenvolvimento constatou que os homens ganham 10% a mais que as mulheres. Já quando a comparação envolve homens e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, essa diferença sobe para 17%. Da mesma forma, a população indígena e negra ganha em média 28% menos que a população branca de mesma idade e nível de instrução.

 

Sobrecarga de trabalho
As mulheres ainda são consideradas as principais responsáveis – quando não exclusivas – pelos filhos. São elas que na maioria das situações assumem as responsabilidades pela educação e saúde dos filhos mesmo quando compartilham a criação com o pai. As tarefas domésticas também continuam sendo vistas como obrigação feminina, quadro que apenas começa a mudar nos lares em que os homens tem alto nível escolar. O acúmulo destas tarefas ocasiona a chamada "dupla jornada de trabalho": quando após cumprir expediente no trabalho, a mulher ainda precisa dar conta da casa, dos filhos e do marido.

 

Aparência

Tratadas como "nicho de mercado" pela publicidade e pela mídia, as mulheres sofrem extremada cobranças para corresponder a padrões de beleza. Na maioria dos programas televisivos e peças publicitárias as mulheres são brancas e magras. Negras, indígenas, gordas, lésbicas e pobres são praticamente invisibilizadas, como se não existissem como mulheres. Esta aparentemente inocente e casual representação acaba por influenciar na autoestima de milhares de mulheres. Por isso, movimentos feministas lutam pela democratização da comunicação, defendendo programas que não exaltem apenas a beleza física das mulheres, mas também a sua contribuição nas diversas áreas para a evolução da sociedade.

 

Política

A luta das sufragistas deu às mulheres o direito ao voto no Brasil em 1932. Mais de 70 anos depois, a participação feminina nos processos eleitorais se mantém restrita. São muito poucas as mulheres que ocupam cargos eletivos nas casas legislativas e executivos das prefeituras, estados e federação. Em Santa Catarina, Estado que está entre os piores no ranking da participação política das mulheres, há apenas três deputadas dentre os quarenta parlamentares com cadeira na Assembleia Legislativa. Os movimentos feministas defendem o aumento do número de mulheres nos espaços de decisão política para que possam tomar decisões que contribuam para a igualdade de gênero.

 

 

 

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