07
mar

Mulheres comemoram avanços e lutam pela igualdade de direitos

Apesar de representarem cerca de 50% da força de trabalho, as mulheres ainda não têm as mesmas condições oferecidas aos homens. Esta situação constrangedora é fruto da discriminação, do preconceito e do machismo, predominantes na cultura que reconhece o homem como provedor e a mulher como cuidadora. “As mulheres trabalham mais, realizam dupla jornada, ganham proporcionalmente menos que os homens e geralmente sofrem com mais intensidade problemas como o desemprego e a precarização”, lembra o presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes.

O Conselho Federal de Farmácia afirma não ter dados sobre a diferenciação dos farmacêuticos por sexo. Se projetarmos pela proporção catarinense, onde 5.122 dos 7.465 registrados no CRF/SC são do sexo feminino, mais de 65% dos 133.762 farmacêuticos brasileiros seriam mulheres.

A pretexto do Dia Internacional da Mulher, o SindFar propõe uma reflexão sobre a condição feminina no trabalho farmacêutico. Será que ser maioria em uma categoria faz alguma diferença?

 

Relações de poder

 

A presença das mulheres cresce nas diferentes áreas, mas a predominância em setores como a saúde e a educação é sensível. Isso não é por acaso, mas resulta do que as pesquisadoras Elenice Pastore, Luisa Dalla Rosa, Ivana Dolejal Homem chamam de divisão sexual do trabalho. Em seu estudo “Relações de gênero e poder entre trabalhadores da área da saúde”, onde consideram possível perceber a permanência da divisão sexual do trabalho em todos os setores, atribuindo determinados tipos de atividades para as mulheres e outras para os homens. “Historicamente, as atividades compreendidas como femininas são consideradas secundárias, menos valorizadas tanto sociais como economicamente”, afirma o estudo.

Na área da saúde, a divisão sexual do trabalho é bastante evidente: as mulheres atuam nas funções voltadas essencialmente aos cuidados (saber e fazer de enfermagem, higienização, nutrição), enquanto os homens se concentram no tratamento (saber e fazer médico). Para além de aspectos biológicos, esse processo tem um forte componente cultural. “Percebe-se nesta relação um processo de antagonismo que de certa forma foi ‘naturalizado’, provocando inquietações sobre a existência de hierarquia e dominação nestas relações”, afirmam as pesquisadoras.

 

Múltiplas jornadas

O mundo capitalista absorveu facilmente a força feminina de trabalho, mas pouco se preocupou com as dificuldades das mulheres para se dedicarem a ele. A sociedade demora a absorver a idéia de que os filhos são responsabilidade de uma mãe e também de um pai, e que o Estado também precisa prover condições de saúde e educação adequados. Sobre as mulheres, continua a recair a maior parte do cuidado com a prole. Então, é comum que as trabalhadoras sejam questionadas sobre maternidade e estado civil na entrevista de emprego.

O mesmo ocorre com o trabalho doméstico, que continua sobrecarregando as mulheres em detrimento aos homens. As mulheres brasileiras se envolvem com o trabalho doméstico cerca de duas a três vezes mais que os homens. Segundo pesquisa feita pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) em 2007, enquanto as mulheres dedicam 27 horas semanais às tarefas do lar, os homens ocupam apenas 10 horas para estas atividades.

 

Como mudar?

Transformar a realidade ainda desfavorável às mulheres demora, sobretudo, porque depende de mudar bases cristalizadas na sociedade. E a mudança da cultura machista e conservadora precisa acontecer em várias dimensões, desde a forma como criamos nossos filhos/as até a criação e aplicação de leis que garantam mais igualdade.

A Secretaria da Mulher da CTB acompanha a tramitação do PL da igualdade salarial. Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 2008, as mulheres ganham, em média, 29,7% menos do que os homens. O projeto protocolado no ano passado pela deputada (e farmacêutica) Alice Portugal (PCdoB) e do substitutivo do deputado Valtenir Pereira (PSB) tramita no Senado. “ É um projeto avançado que exigirá de nós, mulheres e homens classistas, muita mobilização”, afirma a Secretária da Mulher da CTB, Raimunda Gomes.

 

A participação política e sindical das mulheres

Em decorrência da invisibilidade feminina ao longo da história, a maioria dos sindicatos ainda tem participação predominantemente feminina. Mesmo em algumas categorias em que a maioria é mulher, não é incomum que as lideranças projetadas sejam homens. Isso muda na medida da escolarização da categoria.

Nas fileiras da organização farmacêutica no país e no estado, as mulheres começam a assumir o front. Ocupam a presidência da Fenafar (Célia Chaves) e, no plano estadual, da Anfarmag (Ana Claudia Scherer Monteiro), do SindFar (Caroline Junckes) e do CRF/SC (Hortência Tieling).

As farmacêuticas protagonizaram capítulos importantes na história da categoria, de Santa Catarina e do Brasil. Algumas delas:
– a farmacêutica Clair Castilhos foi a primeira vereadora eleita na capital. Participou do movimento sanitarista, colaborou e colabora com o movimento feminista. Integra o Conselho Nacional de Saúde.
– a luta de Maria da Penha por justiça contra o ex-marido agressor virou símbolo da luta contra a violência doméstica no país
– a primeira representação dos farmacêuticos no senado é a farmacêutica Vanessa Grazziotin

Bandeiras defendidas pela CTB para as mulheres

– PL DA IGUALDADE SALARIAL
• EM DEFESA DO DESENVOLVIMENTO COM VALORIZAÇÃO DO TRABALHO.
• REDUÇÃO DA JORNADA PARA 40 HORAS SEMANAIS COM IGUALDADE SALARIAL PARA TRABALHADORES E TRABALHADORAS
• CONTRA O FATOR PREVIDENCIÁRIO NO CÁLCULO DA APOSENTADORIA.
• EM DEFESA DA REFORMA AGRÁRIA
• MANUTENÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS QUE CONTRIBUAM PARA ROMPER COM AS DESIGULDADES ENTRE HOMENS E MULHERES
• LICENÇA MATERNIDADE DE 180 DIAS OBRIGATÓRIA E NÃO FACULTATIVA
• APLICAÇÃO IMEDIATA DA LEI MARIA DA PENHA
• DEFESA DO PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

Compartilhe a notícia