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Estudo confirma ineficácia de hidroxicloroquina para tratamento de Covid-19

Maior estudo brasileiro do medicamento até o momento para medir a eficiência da hidroxicloroquina em pacientes com covid-19 demonstrou, novamente, que o medicamento não tem efeito comprovado na melhora do quadro respiratório de quem tem o coronavírus e mostra maiores efeitos colaterais resultantes do fármaco.

O grupo, nomeado Coalizão COVID Brasil, conta com a participação do Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

A pesquisa, que começou no dia 29 de março, foi realizada em 55 hospitais brasileiros, com 667 pacientes com quadros leves ou moderados, que precisavam de pouco ou nenhum oxigênio para a respiração. O estudo foi publicado nesta quinta-feira 23 na revista médica The New England Journal of Medicine.

Por meio de sorteio (ou randomização, como diz o termo científico), 217 pacientes receberam hidroxicloroquina, azitromicina e suporte clínico padrão; 221 apenas a hidroxicloroquina e o suporte clínico; e 227 não tomaram nenhum medicamento, recebendo apenas cuidados padrões.

Para analisar a eficácia do remédio, “a hidroxicloroquina foi usada durante 7 dias na dose de 400 mg a cada 12 horas e a azitromicina 500mg a cada 24h por 7 dias. O suporte clínico padrão foi de acordo com a equipe médica que assistia os pacientes, mas não poderia incluir hidroxicloroquina ou azitromicina.”, diz a nota de divulgação do estudo.

O resultado final crava que “a utilização de hidroxicloroquina ou azitromicina não promoveu melhoria na evolução clínica dos pacientes.”, e ainda acrescenta efeitos colaterais sentidos pelos pacientes que receberam o primeiro medicamento, que é comumente promovido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Tal análise se deve ao resultado final do status clínico de cada grupo analisado no final de 15 dias. Após esse período, já estavam em casa, sem limitações respiratórias, cerca de 69% dos pacientes que receberam hidroxicloroquina+azitromicina+suporte clínico; 64% dos que foram medicados com hidroxicloroquina+suporte clínico; e 68% dos que não tomaram nenhum dos dois antibióticos. A taxa de mortalidade foi aproximadamente de 3% em todos os grupos.

Foram percebidas alterações nos eletrocardiogramas e indicações de possíveis lesões hepáticas nos pacientes que receberam hidroxicloroquina, independente da combinação com a azitromicina, em comparação aos que tiveram suporte padrão sem medicamentos.

O estudo revelou os dados dos pacientes: a idade aproximada era de 50 anos, pouco mais da metade eram homens; 40% eram hipertensos, 21% diabéticos e 17%, obesos. Além disso, todos tinham sintomas de covid-19 há, no máximo, sete dias antes do início dos estudos.

Apesar de outros estudos também terem chegado à conclusão de que a cloroquina e suas variações não têm eficácia comprovada contra o coronavírus, os pesquisadores destacaram que os resultados não são aplicáveis a outras populações. “Para estes pacientes, é necessário aguardar estudos randomizados robustos em andamento.” Leia o release do estudo aqui.

O grupo tem, concomitantemente às análises feitas na eficácia da cloroquina, outras frentes de pesquisa sobre possíveis tratamentos da covid-19. Há mais estudos com a combinação hidroxicloroquina+azitromicina que envolvem casos mais graves, que necessitam de suporte respiratório, e que já têm 440 pacientes.

A outra avaliará a eficácia da dexametasona, medicamento anti-inflamatório, nos casos também graves de insuficiência respiratória com a utilização de ventilação mecânica. Nesta fase, são analisados 284 pacientes.

Fonte: Carta Capital

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