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Brasil debate a saúde das mulheres

Elas são mais de a metade da população brasileira: 51,6%, segundo o IBGE. A maternidade, a violência, o desgaste físico da jornada tripla e outras condições adversas de trabalho também fazem das mulheres as principais usuárias do SUS. E é por isso que o Conselho Nacional de Saúde resolveu mobilizar o país para a 2ª Conferência Nacional de Saúde das Mulheres. A fase nacional do evento que concentrou a atenção de usuários/as, gestores/as e profissionais que prestam serviços de saúde em centenas de cidades brasileiras aconteceu entre os dias 17 e 20 de agosto. A categoria farmacêutica foi representada tanto entre os/as 1.265 delegados/as que aprovaram mais de 300 propostas em favor da saúde das mulheres, quanto na organização do evento.

"Ver tantas mulheres diferentes, com suas características e identidades, organizadas, empoderadas e combatidas foi emocionante e revigorante", avaliou a farmacêutica Marselle Carvalho, integrante da Escola Nacional dos Farmacêuticos. Para a farmacêutica, o processo de conferência marcou a necessidade de se considerar as diferenças e necessidades de cada público feminino na construção das políticas públicas. "As generalizações invisibilizam e as políticas devem atender a todas nas suas inúmeras particularidades. Mas fica também evidente que as nossas diferenças não podem se tornar desigualdades e que temos pelo menos um elemento que nos une: somos mulheres! Cis, trans, bis, homossexuais, heterossexuais, brancas, negras, asiáticas, indígenas, de rua, da cidade, do campo, povo romani, vivendo com HIV, entre outras tantas, somos mulheres com nossas lutas, histórias e trajetórias", afirmou.

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Para dar suporte à atuação dos farmacêuticos e farmacêuticas nas fases locais da conferência, a Fenafar publicou documento em que traz contribuições para aprimorar a atenção à saúde das mulheres. Algumas das propostas oferecidas pela categoria chegaram à etapa nacional, como a oferta de contraceptivos adequados e variados, o financiamento dos conselhos de saúde e a implementação da Política Nacional Integral de Atenção a Saúde da Mulher (PAISM), observou Marselle.

A farmacêutica Jussara Cony participou do processo da reforma sanitária nos anos 70 e segue lutando em defesa do SUS. Ela coordenou a Conferência estadual do Rio Grande do Sul e ajudou a construir cerca de sessenta conferências municipais no estado gaúdo. Segundo Jussara, as mulheres mobilizam-se contra a perda de direitos por que  são as mais atingidas pelas reformas trabalhista, previdenciária e com o ajuste fiscal imposto pelo governo Temer.  "Na assembleia geral constituinte nós demarcamos o SUS como um direito humano, mas nós vivemos num sistema capitalista e, hoje, diante de uma crise enorme, um golpe e um projeto neoliberal está tirando todos os nossos direitos. Como é que vamos ficar nos nossos municípios e estados aplastadas com tudo o que está acontecendo? ", afirmou.

A conferência é uma realização do Conselho Nacional de Saúde, que também tem um farmacêutico à frente. Para Ronald Ferreira dos Santos, a conferência é um espaço de expressão transformador que faz ouvir a voz das mulheres em um momento político que requer justamente a reafirmação da democracia. "O SUS foi a principal e, talvez, a única reforma de um estado atrasado, conservador, patriarcal e patrimonialista que temos no Brasil e que apontou pro avanço civilizacional. E ele só foi possível em função da luta das mulheres. A grande contribuição que estamos dando neste momento em que a democracia está sendo violentamente atacada é reafirmar e dizer que pros principais problemas da sociedade é a democracia. Pode me chamar de megalomaníaco, mas eu tenho certeza que esta conferência foi uma grande contribuição pra humanidade ", afirmou.

Sobre as conferências

As conferências são formas de participação social que procuram colocar em prática os princípios democráticos expressos pela Constituição Federal de 1988. Por meio destes processos, que ocorrem primeiro em etapas locais (nos municípios, regiões e estados) até chegar à fase nacional, a população é convidada a apresentar problemas relacionados a temáticas específicas (neste caso, sobre a saúde das mulheres) e propor soluções. Os documentos finais das conferências são usados para pressionar os governos municipais, estaduais e federal, propor programas e outras políticas públicas capazes de enfrentar as questões apontadas pela população. Ainda este ano, o Conselho Nacional de Saúde realiza a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde acontece entre 21 e 21 de novembro.

 

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